A verdade sobre as notas das escolas de samba

Mangueira

Acabei de acompanhar a apuração do desfile das Escolas de Samba do Rio e, fora discordar dos resultados, notei algo interessante:  Todas as escolas receberam notas acima de 9 em todos os quesitos!  Uau! o espetáculo foi de altíssimo nível e a disputa se deu em décimos devido a tanta excelência e competência de todas as escolas em seus desfiles.  Calma, não é bem assim…

Lembro-me em parcas eras de xingar um jurado até a quinta geração de antecedentes e descendentes por ter dado um oito para a Mangueira em bateria (a Mangueira jamais mereceu nota menor que 10 em bateria), e agora ninguém mais, nem a Inocentes de Belford Roxo e a Mocidade tiraram notas abaixo de 9?  Que coisa esquisita…

O que ocorreu na verdade é que o regulamento mudou.  Quando esse jurado que não entende nada de bateria deu 8 para a Mangueira, a regra era:  Notas de 5 a 10 com variação de décimos.  Não apresentar o quesito rendia zero.  Apresentar o quesito já lhe garantia 5 pontos portanto.

Só que em 2011 (to puxando de cabeça, se tiver errado me corrijam) algum jurado barbarizou e lascou um 7 em uma das favoritas, tirou-a da disputa, no final deu Beija-Flor como sempre dá em carnavais polêmicos (por que será?) e um mimimi danado.  Resultado: A LIESA mudou a regra.

Na regra vigente, as notas só podem ser entre 9 e 10, com variação de décimos.  Por isso que todo mundo tirou acima de nove e a disputa se deu na casa dos décimos.  Isso acabaria com o mimimi das escolas.

Mas, para pra pensar:  Faz diferença perder ou ganhar por um décimo ou um ponto?  Se multiplicássemos as notas por 10 e descartando o nove que todo mundo tem, não mudaria nada.  A Vila Isabel, campeã com 293,7 pontos o seria com 2937.  A vice Beija-Flor, ficaria com 2934.  Ao invés de três décimos, teria perdido por 3 pontos.  Nada muda.

Fora o mimimi e o marketing de sempre ficar acima dos nove, acho que matematicamente faria mais sentido se as notas fossem dadas de 0 a 10.  Na regra atual seriam apenas notas inteiras, mas nada impede de quebrá-las.  Se é assim na escola, por que não pode no carnaval?

Por causa do mimimi e do Marketing, claro.  Um casal de mestre-sala e porta-bandeira que leve um oito, xingará muito no twitter depois.  Agora levando um 9,8 nem tanto.  Mesmo que não fizesse diferença alguma (se multiplicar as notas por dez).  O fato das notas ficarem sempre entre nove e dez é só psicológico.

Esse sistema chega perto dos pedabóbicos que dizem que tem que aprovar, que nota baixa traumatiza, que correção com caneta vermelha humilha a criança, que o Merthiolate não pode arder…  De qualquer forma, só beneficia os derrotados.  Errar e perder um décimo é menos feio que perder um ponto…  Enfim.  O Brasil é o país que cultua o mais fraco, o derrotado, onde ter sucesso é ofensa, e todo o fracasso nunca é por culpa de quem fracassou.  Logicamente isso iria se refletir no carnaval.

Leia Também:

Sobre Fernando Vieira

Engenheiro Mecânico. Trabalha no Rio mas mora em Petrópolis. Fez esse blog, pra comentar sobre tudo um pouco mesmo sem entender de nada.
Esse post foi publicado em Reflexões e marcado , , , , , , , , , , , , , . Guardar link permanente.

Deixe um comentário