Os Argentinos e a Guerra das Malvinas

Hoje, 2 de abril de 2012 completam-se 30 anos do dia que a Argentina invadiu as ilhas Falklands / Malvinas (vamos dar uma moral para os hermanos e ficar com Malvinas?) no que foi a maior burrice que eles fizeram na década (tá, elegeram o Menen e fizeram uma paridade cambial maluca, mas ainda acho que a guerra supera).

Os Argentinos sempre clamaram a soberania sobre aquelas ilhas.  Argumentam que o arquipélago está sobre a plataforma continental argentina e, portanto parte do país.  O Brasil usou o mesmo argumento para ter seu mar territorial ampliado de olho na pesca e nos campos de petróleo.  Os ingleses ocupam o arquipélago desde o final do século XIX.

No entanto, não há absolutamente nada que valha a pena naquelas ilhas.  Os recursos naturais são escassos, não tem nada que faça as ilhas serem lucrativas para um país.  Os ingleses tem um interesse ali pois, caso o pacto sobre a Antártica seja modificado, possuir territórios próximos ao continente gelado será de grande valia para reclamar posses.  Já os argentinos a querem porque ela está perto, e moralmente é deles.

A ação começa por que os argentinos resolveram se usar de um princípio básico do estadismo:  Se as coisas estão pretas, arrume uma guerra.  Assim o país irá se unir em torno de você e sua popularidade irá subir imediatamente.  Invadir uma possessão inglesa há mais de 40 mil quilômetros de distância, sem interesse militar ou econômico parecia uma boa.  Aposto que o general Galtieri deve ter pensado que os ingleses não estariam nem aí praquilo e seu gesto daria certo.

Só que pinto que cisca cá, cisca lá, e na Inglaterra uma guerrinha não iria nada mal para uma primeira ministra que vivia uma crise de popularidade em ano eleitoral.  Chegadas as notícias da invasão, o povo de lá exigia uma resposta, e a mulher conhecida como “dama de ferro” precisava dar uma resposta a altura do apelido.  E foi o que ela fez.

Posto o tabuleiro, sabemos o que aconteceu.  Não vou ficar aqui narrando a história (aí você procurou pela guerra das Malvinas no Google, parou aqui e seu trabalho de escola será meu blog – Fico honrado viu? Mas por favor não kibe), queria salientar um lado e uma atuação:  Os argentinos.

A guerra das Malvinas foi uma das últimas em que não havia uma assimetria de forças.  Embora a Inglaterra fosse muito superior aos argentinos em poderio bélico, a distância de suas bases e o momento inglês, bem como o contexto de guerra fria favorecia os argentinos, o que colocou as coisas mais ou menos equilibradas.  Mas os ingleses eram profissionais.  Já os argentinos foram colocados em uma furada pelo seu próprio governante.

A vitória inglesa era um fato desde o momento em que eles decidiram revidar.  No entanto os argentinos foram verdadeira carne de pescoço para os ingleses graças a sua capacidade de improviso.  Embora o exército argentino fosse numeroso na ocupação das ilhas, não se tratava de tropas profissionais.  Na verdade, uma boa parte eram os jovens que faziam oposição ao governo.  Muitos que estavam ali não queriam estar lá, não eram os voluntários, ou soldados profissionais que formam o melhor das forças combatentes.

Já a marinha argentina foi quem fez mais feio na guerra.  Ficando ausente durante boa parte do conflito, limitando sua participação somente nas fases iniciais.  A marinha argentina foi no entanto a protagonista do episódio mais marcante da guerra:  O afundamento do Cruzador Belgrano.  O navio fora atacado por um submarino nuclear inglês.  A partir desse episódio os mares passaram a ser possessão inglesa, pois todo o resto da marinha Argentina passou a ficar nos portos do continente.  Justiça seja feita com a Armada seus navios fizeram feio, no entanto a aviação naval Argentina fez bonito junto com a Força Aérea.

No entanto bonito e honrando o nome e as tradições do país fez a Força Aérea Argentina.  Se a guerra durou e os Argentinos puderam chegar perto de uma vitória isso se deve a sua Força Aérea.  Inferiores tecnologicamente, foram buscar o que podiam para enfrentar um inimigo que parecia invencível.

Para enfrentar os navios ingleses, os argentinos dispunham de mísseis Exocet.  Era o melhor míssil antinavio do mundo de então.  Só que havia um problema:  Esses mísseis, de fabricação francesa, não haviam sido integrados aos caças argentinos (os velhos e confiáveis Super Etendart e Dagger) e os franceses, por conta do tratado da OTAN não fariam a adaptação, nem sequer fornecer os computadores de lançamento para os Exocet.

Bem, o que os argentinos fizeram?  Uma grande gambiarra.  Ajudados pelos peruanos a engenharia argentina conseguiu adaptar, integrar e disparar com sucesso seus Exocet.  E com uma mira muito boa, tanto que eles não possuíam muitos mísseis, mas os poucos que tinham fizeram um baita estrago.

Os ingleses haviam subestimado os argentinos e suas armas.  Achando se tratarem apenas de aviões velhos com bombas de queda livre.  Os franceses lhes garantiram que os Exocet estariam inertes.  Imagino o susto que os ingleses devem ter levado quando começaram a chegar Exocets aos seus navios.

As táticas da força aérea Argentina eram infantis.  Previsíveis, destreinados, mas destemidos e extremamente determinados.  A união desses fatores, ao mesmo tempo que os deixava na mira dos ingleses fazia dos pilotos argentinos presas fáceis aos ingleses.

É bem verdade que o melhor avião do teatro de operações era argentino, os Mirage IIIEA.  Mas estes só podiam operar baseados no continente, permitindo que eles chegassem ao teatro de operações e ter apenas cinco minutos de tempo de combate, tendo que retornar por falta de combustível (o REVO era muito arriscado).  Os argentinos tentaram ampliar a pista do aeroporto das Malvinas, de forma a permitir que os Mirage operassem dali.  Mas não conseguiram fazer isso a tempo (tivessem conseguido, os Harriers ingleses sofreriam, e uma situação de superioridade aérea Argentina era possível).

A força Aérea Argentina afundou diversos navios ingleses com seus Exocet e mesmo bombas convencionais, seus Raids sobre a frota inglesa tornaram-se temidos e forçaram aos ingleses mudarem sua posição e desguarnecer a proteção naval ao Arquipélago, buscando ficar longe dos caças argentinos.  O transporte de carga também era de um heroísmo ímpar.  Cargueiros argentinos chegaram as suas tropas até o último dia da guerra.

A situação que a Força Aérea Argentina criou estava tão incômoda para os ingleses que uma operação com comandos, via Chile chegou a ser montada e executada de forma a destruir a base de onde partiam os caças argentinos.  A operação fracassou.

A vitória Argentina era impossível, mesmo se a frota Argentina se lançasse ao mar, teríamos uma batalha naval épica e os Argentinos podiam até vencer.  O Porta-Aviões 25 de mayo preparava um ataque ao porta-aviões Britânico HMS Invincible, mas o vento não permitiu.  Naquele dia o General Belgrano fora afundado e a frota acabou voltando ao porto.  Caso eles insistissem no ataque, o prejuízo inglês seria maior, uma batalha de verdade poderia até dar uma vitória temporária aos Argentinos, mas os Ingleses voltariam.  Além disso, os recursos e armamentos (como o formidável Exocet) estavam acabando.  Com todos os países vizinhos neutros (exceto o Peru que os apoiava e o Chile que em segredo apoiava a Inglaterra) e os fornecedores de armas também não procurando encrenca com a Inglaterra, não havia o que fazer.

No fim, deu o previsível.  Os ingleses levaram a melhor.  A Argentina pagou o preço de sua ditadura.  Tanto que ela caiu logo depois.  Mas os guerreiros argentinos, embora derrotados, podem ficar com sua honra intacta, pois lutaram com ela, morreram com ela, e voltaram para casa com ela.  E isto é o que mais vale para um guerreiro.

Sobre Fernando Vieira

Engenheiro Mecânico. Trabalha no Rio mas mora em Petrópolis. Fez esse blog, pra comentar sobre tudo um pouco mesmo sem entender de nada.
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2 respostas para Os Argentinos e a Guerra das Malvinas

  1. Mateus Souza disse:

    Olha, pelo que sei o que está em jogo nas Malvinas são campos de petróleo ou gás desconhecidos… Não sei se a guerra foi por recursos ou orgulho, mas hoje tão falando isso. Boa matéria.

    • Fernando Vieira disse:

      Pois é, atualmente suspeita-se de grandes reservas de óleo e gás lá sim, mas na época da guerra ninguém suspeitava de nada. Os argentinos invadiram como forma de elevar o orgulho deles e unir o país em torno da ditadura, que era o objetivo principal pois o país estava desmoronando.

      Os argentinos invadiram justamente achando que os ingleses não fariam nada pois aquilo para eles seria um pedaço de terra sem nenhuma importância estratégica ou de recursos. Naquela época, claro.

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